quinta-feira, 28 de julho de 2011

Alzheimer: uma nova abordagem terapêutica


A doença de Alzheimer (DA) – aquele alemão que nos faz esquecer as coisas, como dizemos jocosamente – é causada pelo depósito de placas amiloides-b e proteína tau no cérebro. Com isso, os neurônios e conexões são destruidos, levando aos poucos à perda da memória. Com o aumento da nossa expectativa de vida, a incidência da DA é cada vez maior. Prevenir o seu aparecimento tem sido uma preocupação constante.

Várias drogas testadas até o momento mostraram-se ineficientes. A explicação é clara. Uma vez instaladas no cérebro, é muito difícil retirar as placas. O “pulo do gato” é evitar que elas se depositem, não há outro jeito. Mas como conseguir isto já que quando os sintomas surgem as placas já fizeram um estrago irreversível?

Esse foi o tema abordado durante uma conferência internacional sobre DA em Paris, como resume David Cyranoski em um artigo recente (Nature News, 22 de julho): como testar drogas preventivamente, se não sabemos de antemão quem irá desenvolver a DA?

A estratégia será testar as formas hereditárias raras da DA, nas quais sabemos com certeza que os portadores de mutação serão afetados, muitos deles, precocemente
Na grande maioria dos casos, a DA obedece a uma herança multifatorial, isto é, depende da interação entre genes de suceptibilidade e o ambiente. Essas formas, que são muito comuns, são chamadas de esporádicas ou LOAD (do inglês Late Onset Alzheimer Disease). Já falei disso em colunas anteriores.

Embora saibamos hoje que todos temos placas amiloides no cérebro cuja quantidade aumenta com a idade , algumas pessoas desenvolvem a DA e outras não perdem a capacidade cognitiva até idades avançadas. Por que isso ocorre ainda é uma grande incógnita. Mas isso não acontece nas formas hereditárias – causadas por três genes de herança autossômica dominante (PSEN1, PSEN2 e APP) –, que correspondem, felizmente, a menos de 10% dos casos.

Pessoas com mutações nesses genes apresentam uma forma precoce da doença, geralmente entre os 40 e 50 anos de idade. Nas famílias com essa forma dominante é possível identificar com certeza os portadores de mutação muitos anos antes do aparecimento dos sintomas. Isso pode ser crucial para o tratamento preventivo, já que pesquisas apontam para um aumento da proteína amiloide-b no líquido céfaloraquidiano entre 20 a 30 anos antes do início da doença.

Ensaios clínicos com novas drogas estão previstos para 2012
O projeto DIAN (do inglês Dominant Inherited Alzheimer Network) pretende iniciar ensaios clínicos em 2012. Entre as várias drogas propostas será escolhida a mais promissora. Como nas formas hereditárias sabemos com certeza que os portadores das mutações irão desenvolver a DA, será fácil verificar se a droga está sendo efetiva ou não.

Uma das críticas em relação aos testes lembra que nas formas hereditárias há um aumento na produção das placas amiloides-b, enquanto nas formas esporádicas da DA o problema não é o aumento de produção, mas a “limpeza” das placas. Mesmo assim, os pesquisadores apostam que uma vez eficiente no tratamento de formas hereditárias, a droga será igualmente útil para tratar as formas esporádicas.

Os dilemas éticos
Sempre me posicionei contra testar pessoas saudáveis para mutações responsáveis por doenças de início tardio sem tratamento. Eu mesma não quero saber se vou ou não ter DA, pelo menos enquanto não houver tratamento. Mas, se realmente a detecção precoce permitir a prevenção, saber de antemão quem está em risco será fundamental. De acordo com alguns críticos, administrar drogas a pessoas saudáveis pode significar submetê-las a efeitos colaterais desnecessários, pois muitas talvez nunca desenvolvam a doença. Em cada caso é necessário pesar os prós e contras. Mas estamos caminhando para isso cada vez mais: a medicina preventiva.

Fonte: veja

até breve

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