terça-feira, 14 de setembro de 2010

Promessa de emprego vira moeda de troca em projeto de construção da Ferrous


As empresas que pretendem se instalar no Estado do Espírito Santo continuam percorrendo o mesmo trajeto de sempre, e desta vez não foi diferente. Segundo a Ferrous Resources do Brasil S.A, a construção do seu mineroduto oferecerá 2,5 mil vagas de trabalho. A divulgação das vagas foi feita a apenas quatro dias da audiência pública que discutira a emissão da Licença Prévia (LP) do empreendimento.

A oferta de emprego, neste caso, é utilizada como moeda de troca com o objetivo de seduzir a população, em detrimento aos impactos que serão gerados à região sul do Estado.

Ao todo, a Ferrous quer construir um complexo portuário, um mineroduto e, apesar de já ter negado a intenção de construir uma siderúrgica no Estado, deixou claro em A Tribuna que pretende, sim, construir uma siderúrgica e três plantas de pelotização na região.

Vale lembrar que as 2,5 mil vagas de trabalho são referentes ao mineroduto – entre Presidente Kennedy e Minas Gerais – e não serão geradas apenas no Estado e funcionarão apenas no período de pico da obra de construção do empreendimento.

Portanto, apesar de divulgar o número de vagas de emprego, a empresa deixa claro também que a forma com que estes profissionais serão contratados só será divulgada após a última fase de licenciamento do empreendimento, ou seja, após a emissão de Licença de Instalação (LI).

Neste sentido, o clima na região ainda é confuso. Entre a população, o que se sabe é que o empreendimento vem sendo tocado sem muito alarde e sem qualquer interação com a comunidade local.

Segundo o presidente da Federação de Pesca do Estado, Adwalber Lima, conhecido como Franklin, os pescadores que residem em Presidente Kennedy, Marataízes, Piúma e outras localidades da região não foram comunicados sobre o empreendimento, que afetará diretamente a comunidade, e só foram convocados pela empresa após protestos pelo descaso.

Além disso, a comunidade enfrenta dificuldades também em relação ao Ibama, que demorou para informar que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) já estava no órgão e sendo analisado por seus técnicos.

O empreendimento, que poderá ser construído entre as praias de Marobá e das Neves, irá dragar na região e aprofundá-la (a cinco quilômetros da costa) cerca de 25 metros. O empreendimento exigirá ainda a construção de um píer de 520 metros de extensão e uma ponte de acesso de 5 mil metros.

Segundo Franklin, a área demandada é exatamente a utilizada para a pesca do camarão que sustenta as famílias da região.

Ainda assim, as mobilizações dos municípios da região para entrar também no pacote da Ferrous já começou. A informação é que um consórcio entre os municípios capixabas de Marataízes e Presidente Kennedy e do norte fluminense do Estado do Rio de Janeiro, São Francisco de Itabapoana, vem sendo articulado e uma reunião neste sentido, inclusive, já foi realizada.

A idéia da criação de um consórcio para planejar o desenvolvimento regional surgiu em razão dos diversos empreendimentos econômicos com implantação prevista para a região nos próximos anos.

Os três municípios juntos possuem uma população próxima de cem mil habitantes e há estudos que indicam que o potencial de oferta de empregos nos próximos anos nessa região se equipare ao número populacional. Entretanto, a capacitação dos moradores da região para ocupar as vagas oferecidas ainda não foi cogitada, nem pela empresa, nem pelo poder público.

Com isso, a região poderá conhecer a mesma realidade vista atualmente em Anchieta e Guarapari, onde foram criados bolsões de miséria após a dispensa dos trabalhadores que ajudaram a construir a Samarco Mineração S.A. vindos de várias partes do País.

Na ocasião, as promessas de emprego, assim como de capacitação da mão de obra local, também foram divulgadas antes das audiências públicas e utilizadas para seduzir a população e abafar os impactos que seriam gerados pelo empreendimento.

Atualmente, além do inchaço populacional, a região convive com o aumento da violência, a prostituição e o tráfico de drogas. Além disso, falta estrutura na rede de saúde e educação.

A audiência que discutirá o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para a construção do terminal portuário da Ferrous será realizada no dia 16,,no Ginásio Poliesportivo Erasmo Lemos Corrêa, na rua projetada s/n, as 19h30.

Fonte: Século Diário

até breve

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