sexta-feira, 1 de abril de 2011

Especialista afirma que Atafona sofre com as mudanças de correntes marinhas

A evolução recente da erosão em Atafona, distrito de São João da Barra, município do norte-fluminense, a 314 quilômetros do Rio de Janeiro, tem causado grande interesse no meio acadêmico.


Gilberto Pessanha, do departamento de Engenharia Cartográfica da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e professor do departamento de Análise Geoambiental da UFF (Universidade Federal Fluminense), estuda a região há vários anos.


Pessanha lembra que a erosão também é percebida em diversos outros pontos do litoral brasileiro, porém em “condições diferentes de intensidade, frequência e direção”. O que faz de Atafona um caso atípico, segundo ele, é o conjunto de fatores climáticos e tipo de solo da área.


Em conversa com o iG, o professor explica o fenômeno que tem destruído centenas de casas e diz que ainda é cedo para correlacioná-lo com as alterações climáticas do planeta.


iG: Por que o fenômeno erosivo acontece com tanta força em Atafona e não em outras cidades litorâneas do País que também têm esta junção rio-mar?

Gilberto Pessanha: Em Atafona se reúnem condições que proporcionam erosão mais enérgica. É noticiado porque destrói casas... Tem série de agentes que juntos promovem aumento do clima de ondas. Seu ângulo de ataques na praia arenosa é no sentido do vento de nordeste para sudoeste.


iG: Desde quando o fenômeno erosivo é detectado em Atafona?

Gilberto Pessanha: Desde a década de 50. Pesquisei em jornais locais o registro de notícias sobre a erosão e foi noticiada a respeito da Ilha da Convivência (São Francisco de Itabapoana, na desembocadura do rio Paraíba do Sul), com destruição de casas na época.


iG: A Ilha da Convivência, que já teve cerca de 400 famílias, segundo relatos de nativos, hoje só tem três residências. É o primeiro caso de “refugiados ambientais” desta natureza no País?

Gilberto Pessanha: Não. Na foz do rio Parnaíba, no rio São Francisco, rio Doce, rio Jequitinhonha já têm erosão com remoção de pessoas faz tempo.


iG: A Ilha da Convivência sofre grandes diminuições de seu território ao longo dos anos, conforme os próprios moradores contam. A tendência é que a ilha desapareça?

Gilberto Pessanha: A área da ilha diminuiu muito mesmo. Isso devido à energia marinha, às ondas, nos últimos dez anos. É possível afirmar que ela pode migrar. Mas difícil ver seu desaparecimento, porque os sedimentos trazidos pelo rio Paraíba do Sul ainda permitirão, por alguns anos, ser estocados na parte emersa da ilha, na foz.


iG: Quem é o maior culpado por isso: o rio ou o mar? Os moradores, dona Belita inclusive, defendem o rio, colocando a culpa no mar.

Gilberto Pessanha: Dona Belita é sábia, sim. Eu a conheço e ela tem opinião que converge com a ciência. O agente marinho é o mar. Trata-se de um delta cominado por ondas. A geografia da foz mostra que a planície costeira do rio Paraíba do Sul, composta por manguezal e restinga, cresce. Mas há épocas de erosão em alguns pontos da costa. Produzi um mapa que mostra isso comparando o delta em 1954 e 2000.


iG: Atafona também pode desaparecer do mapa?

Gilberto Pessanha: Não. O complexo deltaico do Paraíba do Sul está em formação, em crescimento, e espera-se que, após este episódio de erosão, haja engordamento de praia. Em uma análise em tempo geológico dentro da era do quaternário, nos últimos oito mil anos, o delta cresceu e continuará crescendo. Foram feitas sondagens geológicas que comprovam que houve erosão no passado pré-histórico também.


iG: Muito se tem proposto acerca do que é possível se fazer na região. É possível deter a força do mar?

Gilberto Pessanha: Não. A costa brasileira, e de outros países, está sempre em transformação. O seu desenho varia em função dos agentes astronômicos (marés), meteorológicos (tempestades e frentes frias), oceanográficos (circulação de correntes) e atmosféricos (circulação atmosférica).


iG: Por mais que se saiba que o tsunami no Japão não tem relação com o fenômeno que se passa em Atafona, muitos moradores locais fazem esta comparação. Dá para se fazer um paralelo entre as duas problemáticas?

Gilberto Pessanha: As causas são diferentes, mas há agentes físicos e ambientais comuns, em proporções distintas: onda, vento, marés...


iG: É mesmo possível afirmar que o fenômeno erosivo em Atafona é agravado pelas mudanças climáticas?

Gilberto Pessanha: Mesmo sabendo que há especialistas que afirmam isso, é cedo ter esta comprovação. Há complexidade na interpretação. A anatomia do fenômeno da erosão é dependente dos condicionantes ambientais, de sua intensidade e da frequência, além de fatores antropogênicos, que são barragens, obras de engenharia costeira, entre outros.


Fonte: ig


até breve

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