domingo, 10 de abril de 2011

Gabrielli adverte: 'A Petrobras não pode ser a vilã da inflação'


O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, desmentiu que esteja em rota de colisão com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por conta dos preços dos combustíveis. Gabrielli reafirmou que um aumento nos combustíveis só será necessário se os preços internacionais do petróleo se estabilizarem no patamar de US$ 122 por barril. Mas ele disse, em entrevista exclusiva a Germano Oliveira do GLOBO durante um voo entre Rio e São Paulo na noite de quinta-feira, que, caso permaneçam oscilando, ou até caiam, essa medida não precisa ser tomada. Gabrielli destacou que um dos fatores que exercem pressão por um aumento é a escassez de álcool, o que encareceu o produto e provocou uma elevação de 19% na demanda de gasolina. Mas ele acredita que, agora, com o início da colheita da cana-de-açúcar, essa pressão diminuirá.

- Eu não disse que havia uma decisão de reajustar o preço dos combustíveis. E o ministro também não me desautorizou. Ele só disse que não havia uma decisão de reajustar os preços. E não há mesmo. Eu disse, e repito, que, se os preços do petróleo se estabilizarem na alta, o reajuste será necessário, pois estaremos defasados. Não reajustamos o preço da gasolina desde maio de 2009, quando o reduzimos em 4,5%. Até porque, se não reajustarmos o preço da gasolina internamente, com o aumento da cotação do petróleo no mercado internacional, a Shell, que está no Brasil e compra da gente, vai passar a comprar uma quantidade grande da Petrobras para exportar, ganhando dinheiro às nossas custas - afirmou Gabrielli.


Gabrielli disse não poder estabelecer os percentuais de um eventual reajuste - em caso de necessidade de fazê-lo - porque a composição do preço da gasolina no Brasil é complexa.


- O preço de um litro de gasolina, hoje, é R$ 1, mas ela chega ao consumidor por R$ 2,80 ou até R$ 3. Chega a esse valor ao consumidor porque temos o ICMS, a CIDE, o próprio preço do álcool (25% da gasolina tem álcool anidro), as margem de lucro dos revendedores, etc. Então, o preço da gasolina pode ser reajustado em função do aumento do petróleo sem repasse ao consumidor. Aí, sim, é uma decisão de governo e cabe ao ministro Mantega. Mas em nenhum momento houve uma crise com o ministro - explicou Gabrielli. Leia, a seguir, os principais temas abordados durante a entrevista com o presidente da Petrobras. ESPECULAÇÃO INTERNACIONAL: O presidente da Petrobras disse que a maior pressão pelo aumento do preço do petróleo não parte do conflito na Líbia ou dos problemas econômicos de Portugal, mas do fato de os baixos juros em vários países estarem provocando uma ida de capitais para a especulação com commodities:


- De cada dez contratos futuros com petróleo, nove não fecham. É só papel. Não tem o contrato físico. É especulação pura. E isso tem puxado o preço do barril do petróleo para cima.


Segundo Gabrielli, não há falta de petróleo no mundo:


- O problema da guerra da Líbia, a questão geopolítica, é uma coisa real, mas não é daí que vem a pressão maior. O mundo produz entre 86 milhões e 87 milhões de barris de petróleo por dia e o consumo também é mais ou menos esse. A Líbia produz 1,6 milhão de barris por dia, mas a Opep tem uma capacidade ociosa de 3 milhões a 5 milhões de barris por dia. Portanto, o mercado está equilibrado. O que está pressionando a alta do petróleo é mesmo a especulação internacional, por causa dos juros baixos no mundo.


IMPORTAÇÃO DE GASOLINA: Ele disse que o aumento no consumo da gasolina no país ocorre por causa da alta dos preços do álcool, provocado pela escassez. Isso, no ano passado, levou a um aumento de 19% na demanda da gasolina.


- Nós éramos exportadores de gasolina e agora estamos até importando. Em abril, estarão chegando navios dos Estados Unidos com o combustível. Mas, quando entrar a safra do álcool, agora, em abril, é possível que o preço caia e a pressão em cima da gasolina também reduza um pouco - disse Gabrielli, acrescentando que o mercado internacional é muito complexo:


- Vai entrar o verão nos Estados Unidos e a tendência é aumentar o consumo da gasolina, pois os americanos viajam muito de carro e são os maiores consumidores do produto no mundo. Precisamos ver se haverá mesmo aumento no consumo nos EUA, ou se o americano vai reduzi-lo por causa da recessão. Se aumentar o consumo, será mais um fator de pressão em cima do preço da gasolina no mercado internacional, o que justifica um reajuste nosso. Afinal, o Brasil está numa economia aberta, onde exportamos e importamos.


PRESSÃO INFLACIONÁRIA: Para Gabrielli, é possível que um eventual reajuste nos preços dos combustíveis não provoque grande impacto na inflação:


- A Petrobras não pode ser a vilã da inflação. Um eventual reajuste nos nossos preços não terá tanto impacto assim na inflação. Até porque, se ficarmos vendendo uma gasolina com preços defasados, isso implicará em queda na arrecadação do governo, que conta com os combustíveis para receber mais. E o país precisa arrecadar mais num momento de corte de gastos, como determinou a presidente Dilma Rousseff.


SEGURO NO CARGO: Ele negou que uma crise econômica possa acarretar mudanças na direção da Petrobras. O presidente da estatal afirmou que se dá muito bem com Dilma e lembrou que foi convidado a acompanhá-la na viagem à China.


- Vou no avião da presidente. Participarei das reuniões com os empresários chineses e até da reunião dos Brics (bloco de países emergentes integrado por Brasil, Rússia, Índia e China).


PLANOS PARA O DIA QUE SAIR DA EMPRESA: Gabrielli disse que se sente seguro no cargo, mas lembrou que sua permanência depende de Dilma.


- Em junho, completo seis anos na presidência da Petrobras. Ninguém ficou mais de seis anos no cargo. Quem mais ficou, até agora, foi Joel Rennó (no governo FH). A partir de junho, serei eu. Mas, se não quiserem que eu fique, tudo bem. Voltarei a dar aulas na Bahia, onde sou professor - afirmou Gabrielli, negando ter interesse em se candidatar a prefeito de Salvador no ano que vem. - Sou filiado ao PT desde 1980. Sou fundador do partido. Mas, se deixar a Petrobras, pretendo apenas voltar a dar aula na Bahia. Não penso em carreira política.


COMPARAÇÃO COM A NASA: Num momento em que a União está cortando R$ 50 bilhões em gastos, Gabrielli disse que a Petrobras está com o pé no acelerador. Ele informou que a estatal investirá US$ 224 bilhões (R$ 380 bilhões) até 2014.


- Temos o maior programa de investimentos de uma empresa no mundo. Vamos investir mais do que o governo americano gastou na década de 60 para mandar o homem à Lua. A Nasa gastou US$ 200 bilhões com o programa espacial na época - afirmou Gabrielli, acrescentando que a estatal investe hoje US$ 42 bilhões por ano, o que dá R$ 2.300 por segundo, "mais do que a União está investindo".


Fonte: O Globo


até breve

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