quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ivan Lessa: Celebs


Baixou-me, como um exu exibido, um espírito tabloidiano. Continuo sob a influência de Rupert Murdoch e suas artes negras e, em tudo que vejo e leio, faço-o sob a lente – ou viés, que me ensinaram ser a forma mais chique e atual de se ver ou notar algo no Brasil – do sensacionalismo.

Passados os horrores do fim-de-semana passado, que nem penso em rememorar, volto-me para o que sobrou do mundo e o que ele tem a me oferecer em matéria de leviandades, que de leviandade boa parte de nós é posta e composta.

De bom, um ou outro filme em DVD, a ressurecta série Futurama, precocemente falecida e agora em boa hora revivida. Não sei se faz sucesso aí. Mas, e eu vos juro, é do Matt Groening, o mesmo criador dos Simpsons, e bem melhor, mas bem melhor mesmo que a desfuncional família.

Um ou outro livro. Sempre releituras, que o que se passa nessas festas ou festivais e tardes ou noites de autógrafos não é mais que festança exibida, para não dizer exibicionista.

Sejamos francos: o último autor decente editado, em qualquer parte do mundo, foi Robert Musil. O resto são meras celebridades.

E chego ao ponto onde deveria ter começado a armar minha barraquinha e por-me a vender minhas taínhas magras. Celebridades. A cultura da celebridade, para cunhar um contrasenso.

Tabloides, imprensa sensacionalista: vão de sangue e/ou de celebridades. Que existem sem as aspas que o destino, esse grande pregador de peças, lhes destinou, mas a mídia impressa, sempre mal intencionada, lhes roubou.

Há celebridades no mundo inteiro celebrizando-se 24 horas por dia, 7 dias por semana. Em todas as posições possíveis, se Kama Sutra de celebridades houvesse.

São célebres principalmente por serem jovens (18 aos 24 anos), possuírem interesse amadorístico em música popular (quer dizer, cantam ou tocam profissionalmente em alguma banda popular), trabalharem no cinema e, por aqui e sobretudo, capa e galocha também, principalmente por jogarem futebol ou serem casadas com um player, mesmo abaixo de uma mediocridade aceitável. Vide Victoria Beckham. Mas eu preferia não ver.

As celebridades já estão nos dicionários, onde figuram como celebs, uma vez que raras são aquelas capazes de lidar com qualquer palavra com mais de duas sílabas.

Já vi, sempre graças ao célebre (sem ironia) Google, que no Brasil também já se usa essa forma.

Há inclusive uma web page dedicada às celebs e sua cotação no mercado celebal tupiniquim. Este criado que vos fala inclusive lá está num honroso 3.154º lugar. Procuro quem chegou em 3.155º e dele debocho e massageio meu ego por alguns minutos (mentira: fico horas gozando o bobão).

A melhor celeb é aquela celeb que virou celeb por não fazer nada a não ser aspirar, lutar e conseguir um lugar ao sol sob o intenso brilho das câmeras fotográficas, profissionais ou amadoras, que vivem desse outro brilho que é o brilho da celeb. Sim, esse jogo pode ser 1 a 1. Empate entre os que mais brilham.

Fuçando aqui e ali, deixando Robert Musil de lado (ele não ligaria; não é, nem foi celeb), mexo e remexo na net, tabloideio como um John Wayne da baixa imprensa, mas de segura pontaria, e tento buscar minha celeb predileta. Foi fácil achar.

Dou o nome pois em qualquer lista de não importa aonde, ela deve estar lá pelas 10 celebs mais celebadas. Paris Hilton.

Está para nascer o ser humano que tenha comprado um disco seu (ela se diz cantora quando se registra num dos hotéis da família) ou saiba algo mais do que o fato dela ser herdeira de uma vasta cadeia de hotéis e que coleciona animais de estimação.

Além do fato que gravou discos pagando fortunas por sua feitura e distribuição. Só não encontrou compradores.

No momento em que escrevo, um tabloide, sem adultério ou crime para relatar, me informa que dona Paris, essa festa imóvel, possue uma menagerie composta de 17 cachorrinhos chihuahas, um macaco, inúmeros furões e um bode que, de certa feita – escândalo!, escândalo! – não deixaram que embarcasse no avião.

De resto, no que a ela diz respeito, lembro-me de um clássico episódio da mais que irreverente série animada South Park,em que Paris, de visita à cidade em que a garotada pontifica, urina em pé. Não posso dizer se o episódio foi baseado em fato real ou não. Mas era impagável como só uma celeb pode ser impagável em South Park.

Encerro estas divagações impopulares referindo-me mais uma vez à ressurreição, ano passado, graças aos insistentes e por vezes histéricos pedidos de seus fãs, após uma ausência de 7 anos, de Futurama, e que começou a ter seus 25 novos capítulos exibidos na semana passada por estas bandas. Fry, Leela, dr. Farnsworth, Bender, Zoidberg, Hermes, Zap Brannigan. Esses sim são celebridades. Longa vida a todos.
Fonte: BBC
até breve

Nenhum comentário: