quarta-feira, 6 de abril de 2011

Lupatech: no lugar certo, na hora errada


À espera de uma enxurrada de encomendas da Petrobras, a Lupatech investiu 400 milhões de reais para adquirir 15 empresas de 2006 para cá — mas os pedidos não vieram.


Rezam os mais célebres manuais de negócios que uma das maneiras de uma empresa crescer de forma sustentada é antever tendências de mercado e se preparar para elas. Durante quase uma década, esse princípio funcionou extraordinariamente bem para a gaúcha Lupatech, uma das maiores fornecedoras nacionais da Petrobras. Fabricante de cabos e válvulas utilizados em plataformas de produção de petróleo, a empresa cresceu em média 26% ao ano de 2001 para cá, em grande parte graças às encomendas da Petrobras, de quem depende para gerar 64% de sua receita. O crescimento vigoroso e as enormes expectativas em torno do mercado brasileiro de petróleo transformaram a Lupatech, criada em 1980, numa promessa para os investidores. Em 2006, sua abertura de capital na bolsa rendeu 453 milhões de reais. Parecia o suficiente para transformar uma empresa média e regional numa grande companhia. Com o dinheiro do IPO, a Lupatech partiu para uma série de 15 aquisições, pelas quais pagou 400 milhões de reais. Em apenas 18 meses, suas ações valorizaram espantosos 170%. Era o mundo perfeito — até que veio a crise mundial, derrubando a receita da Petrobras em 17% em 2009. Num inevitável efeito dominó, a Lupatech foi imediatamente afetada e, ao contrário de sua principal cliente, que registrou lucro recorde no ano passado, até agora luta para se refazer do tombo. Em 2010, seu prejuízo foi de 73 milhões de reais. O faturamento, que chegou a 705 milhões de reais em 2008, caiu 18%, para 580 milhões de reais no período. A má fase, como era de imaginar, teve reflexo no mercado de capitais. Em março, os papéis da Lupatech valiam 13,70 reais, 78% menos que seu pico histórico há três anos. “Investimos pesado à espera da Petrobras, mas as encomendas não vieram”, diz o gaúcho Nestor Perini, de 58 anos, presidente e fundador da Lupatech.


Embora já tenha voltado a fazer investimentos pesados — foram 45 bilhões de dólares em 2010, o dobro do montante registrado em 2008 —, a Petrobras decidiu refazer todas as grandes licitações nos últimos dois anos. O objetivo era forçar uma baixa nos preços dos fornecedores, cuja matemática ainda refletia o preço do barril a 140 dólares (ao final de 2010, o barril estava cotado a 115 dólares). Com isso, as compras da estatal foram atrasadas em até um ano, obrigando a Lupatech a operar com apenas 40% de sua capacidade de produção na época. Ao mesmo tempo, a Petrobras retardou a operação de novos poços na bacia de Campos, no Rio de Janeiro, para centrar esforços em estudos do pré-sal na bacia de Santos. Com isso, a produção na região desacelerou, assim como a aquisição de novos equipamentos.


Fonte: Exame


até breve

Nenhum comentário: