terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O mistério da vitamina D


Há mais dúvidas do que certezas sobre a importância do nutriente

O consumo de cápsulas de vitamina D quase dobrou nos últimos dois anos. De acordo com o Nutrition Business Journal, as vendas de pílulas de vitamina D, que já é chamada de “o nutriente do ano”, cresceram 82% entre 2008 e 2009 nas farmácias americanas. Mas há indícios de que a corrida pela vitamina se deva a uma fé precipitada em estudos iniciais sobre o nutriente. Há mais dúvidas do que certezas sobre a importância do nutriente.

O que está comprovado sobre a vitamina D é sua importância na saúde dos ossos. Ela controla a absorção de cálcio. Quando está abundante no sangue, participa da fixação de cálcio no esqueleto. Quando falta, faz o contrário: retira cálcio dos ossos e os enfraquece. Se essa deficiência perdura, o futuro pode trazer a osteoporose.

A maior parte da vitamina D usada pelo corpo humano é sintetizada na pele, pelo contato com a luz do sol. Em tese, ninguém precisaria se preocupar em ingerir nada. O problema existiria para os idosos, porque eles perdem gradualmente a capacidade de produzir vitamina D. Nos países com baixos índices de insolação, há carência da vitamina nos mais jovens.

Pesquisas feitas nos últimos dez anos fizeram crer que parte crescente da população mundial é deficiente em vitamina D e que ela, adicionalmente, teria propriedades protetoras contra cânceres de mama, próstata e intestino, além de esclerose múltipla e diabetes.

Mas isso tudo pode ser exagero. O Instituto de Medicina, um órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, revisou mais de 1.000 estudos e publicou um relatório avisando os médicos de duas coisas importantes. Que não há provas de que a vitamina D faça tanta diferença, exceto nas doenças ósseas. E que os cidadãos americanos precisam de menos vitamina do que se andou dizendo.

Na parte do benefício curativo, alguns trabalhos mostraram que a vitamina D tem efeitos benéficos contra o câncer, mas outros sugeriram o contrário. Foram observados inclusive efeitos colaterais da ingestão da vitamina, como alteração renal. O oncologista Carlos Gil Ferreira, do Instituto Nacional do Câncer, do Rio de Janeiro, diz que nenhum clínico prescreve vitamina achando que vai resolver o câncer: “Qualquer uso da vitamina D nesse sentido hoje seria empírico”.

A necessidade de ingerir vitamina D provoca uma discussão mais complicada. Será que todo mundo precisa das pílulas? Em tese, bastaria meia hora ao ar livre no começo da manhã ou no fim da tarde, três vezes por semana, para produzir o suficiente. Mas o uso de protetor solar e o estilo de vida confinado a quatro paredes podem estar reduzindo essa produção. Acredita-se que um protetor com fator de proteção 15 diminua a disponibilidade da vitamina em 98%. Num estudo feito em São Paulo com 603 pessoas entre 18 e 90 anos de idade, 77,4% dos indivíduos apresentaram falta de vitamina D após o inverno e 39,6% após o verão.

Para conseguir mais vitamina D sem ganhar um câncer de pele, a dica dos médicos é escapar para um passeio, sem filtro solar, nos horários de sol ameno. Se você tiver dúvidas sobre sua capacidade de sintetizar a vitamina, fale com o médico. Ele pode resolver o dilema com um exame.

Fonte: Revista Época

até breve

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